IESA - Santo André
2º ALEN - Turma 2011

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mona por Jorge Barbosa


Quando descobriu com exame de ultrassom que o seu bebê era menino segurou a cabeça, abriu um sorriso desesperado e fez uma rápida oração com os dentes fechados. Sabia que o destino não escrevia errado por linhas certas, como poderia falar disso com sua mãe.
Nunca teve vontade de conhecer o próprio futuro. A consulta na infância com seu irmão caçula fora um terrível engano, mas a frase ainda ressoava em seus ouvidos:
- Seu primeiro filho será um menino e não sei por que ele não vinga.
Aquilo representava a voz da verdade. Sua família era conhecida pelo dom de transmitir o futuro, prevê-lo, e os que não a ouvissem eram considerados culpados.
Duas horas depois, chegou a casa, nem largou a bolsa, abaixou a cabeça má e o pior estava por vir. Sua mãe recostada no sofá exigia uma confirmação. Seu irmão ainda não tinha chegado, queria falar antes com ele. Terminar o inevitável. Então apresentou a barriga e seu morador: Rafael. Sua mãe comemorou muito seu primeiro neto.
Naquela noite Mona teve um turbilhão de lembranças: a infância dura cuidando do irmão caçula, das dificuldades em dividir-se entre o trabalho diário e o estudo noturno de magistério, do primeiro ano em casa nova e alugada, do pai fazendo parte dos alcoólatras anônimos, da última conversa com o ex-marido nos primeiros dias de gravidez, na qual ele a acusava de adultera e jogava-lhe grande maldição:
- Se esse filho for meu como você fala, ele vai morrer e por favor vai levar você.
Passado dois meses, tudo corria normal, ninguém lembrava mais da premonição, até o último exame de ultrassom. A médica percebendo algo diferente, tenta escutar as batidas cardíacas do bebê com estetoscópio. Mona fechou os olhos e ouve uma canção de ninar. Respira fundo como ciente, pede que enquanto a transferem cuidem de sua acompanhante, pois ela sofre de pressão alta.
Sua mãe lá fora, a acompanhante, olha o céu triste chorando uma chuva fina com arco-íris sobressaído em azul dizendo que outro anjo deixa saudades. Ela também já perdeu um filho.

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