IESA - Santo André
2º ALEN - Turma 2011

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Joshua por Jorge Barbosa

Amanheci mau e olhei para as ruas de Paris, recolhi o último sorriso amarelo de Dennis apertando-lhe as mãos contra mim.  Uma tristeza tomava conta de mim, meus cabelos se tornavam serpentes indóceis e meu olhar petrificador escondido por grandes óculos escuros. Não lembrava mais dos últimos anos de conquista e amor na cidade luz. Ganhei a França e estava perdendo meu amado.
Dennis aos setenta anos ainda era muito vaidoso, cuidava da pele e dos cabelos mesmo deitado na cama lutando por três meses intermináveis contra o câncer. Eu bebia um pouco longe do hospital, logo me recompunha para dormir na UTI e o ar estava mudando. Eu sibilava cada vez mais baixo tocando um guizo infernal. Dennis sempre queria pronunciar seu último suspiro, com aqueles olhos profundos como mar pedindo desculpas por ir e vir, como Poseidon se despedindo de sua amada Medusa lamentando tudo e todos, mas eu interrompia com piadinhas sem graça ou trechos de livros. Enfermeiros e médicos não tinham mais regulamentos para isso. Dennis não conseguia mais deixar os olhos abertos, um dia dormiu e não me esperou mais. Eu não gritei, não chorei, nem correu para o hotel na hora, só liguei para o advogado e disse: “Ele morreu, pode transportar-nos para São Paulo”?
O fim da tarde veio rápido com as estrelas e eu agradeci a todos recolhendo vagarosamente as coisas do morto. Nunca consegui enterrar meu companheiro. As lagrimas verteram silenciosas. E difícil saber pra onde olhar.  Não há mais medo nem o que fazer, a última morada em Paris é o quarto do hotel e só Deus sabe o que vem pela frente. Pela primeira vez em minha vida, pensei em Deus, nas usas mãos e seus anjos.  A solidão está muito maior. O dia foi péssimo conclui.
O tempo não pára. Passassem três dias e o advogado arrasta-me para o aeroporto. Eu olho para o horizonte como castigado pelo sol. Como eu vou fazer para voltar para Santo André? Isso significa perdão? Não quero minha parte da herança, sei que tenho e Dennis  deixou-me isso muito claro com uma copia do testamento. Tenho medo do filho de Dennis: Cláudio.
O caminho pelo aeroporto é frio e cinzento. Ninguém me espera. E o que eu achava até ouvi um grasnar, vi um vulto conhecido passar, se esbeirando e soltando seu chiado. Minha irmã me surpreende sozinho, o advogado foi pegar as malas e um taxi. Continuo de óculos escuros e roupas negras.
- Já deu tudo errado pra você, maninho? – falou com todo desdém que possuia minha irmã.
- Não, olhe para minhas mãos!
- Não entendo essas poucas jóias.
Eu tirei os óculos de tanta raiva como uma Górgona fisgando sua vitima, cabelos serpenteando pelos ares e coroando o ataque aos berros:
-Não entende essas duas alianças juntas?  Ele morreu! Está satisfeita? Meu golpe do baú deu certo!
Ela perdeu as palavras, as cores, os gestos, minha irmã tornou-se uma estatua pavorosa, o pânico marcado em cinza concreto alheio ao vem e vai dos outros passageiros. O advogado tirou-me de lá em meio aos aplausos da multidão de espectadores.

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