IESA - Santo André
2º ALEN - Turma 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um Café com Arte

Cenas da Vida.
Um Café com Arte.

 Rogério Dezzotti

              Encontrava-me à mesa próxima à grande vidraça, pela qual, podia-se ver boa parte da rua, alguns comércios, além de grandes árvores nas calçadas. Na tentativa de esquecer tantos fatos absurdos e tantas outras coisas, que lá fora aconteciam. Como, crianças recém-nascidas abandonadas nas ruas-mães, assaltos nos coletivos, meninos cheirando droga pelos cantos da cidade e muito mais... Comigo, apenas três cadeiras vazias por companhia. Na última vez, M.J. estava aqui.
              Os pingos da chuva corriam pelos vidros até as pequenas flores na parte inferior da janela. Esperava a chuva acalmar-se, apreciando uma boa xícara de café, olhando o tímido e silencioso movimento em frente do Café. Apenas um ir e vir de alguns guarda-chuvas desordenados. Nenhuma face conhecida a passar pelas calçadas da Campos Sales.
              Ora tomava um pouco do café, ora me esquecia com o cigarro em frente do meu olhar, deitando-o, depois num cinzeiro. Por algum motivo, sufocava algumas lágrimas, que pareceriam vir à tona a qualquer momento. Não queria chorar. Olhei a minha volta e fitei meus olhos na xícara. O aroma forte que subia, entrava em meu ser e, pouco a pouco, deixei-me perder numa reflexão. Quando dei por mim, estava longe, muito longe. Lá estava eu, sentado nos degraus da escada, junto à porta da cozinha, na fazenda onde nascera. Por um momento, um nó se fez em minha garganta. À sombra da frondosa paineira em flor, mamãe lavava roupas, ouvi sua voz triste, cantar um refrão de que sempre me lembrarei. – “No céu, no céu, com minha mãe estarei...” – Parecia alegre, sua voz doce como a sabiá laranjeira, mas sei que apesar de tantas coisas... Mamãe já está no céu.
              Certa vez, ao voltar para casa, lavando roupa alguém se encontrava e, num ato sem pensar, gritei forte:
      • Mãe!?
              Não, não era mamãe; era minha irmã  que trajava o vestido que a ela pertencera. Chorou minha irmã; chorei também. Como pôde, depois de tanto tempo que falecera, uma simples peça de roupa velha ser o bastante para mamãe fazer-se presente. Ainda que somente naquele breve momento. “Vem me encontrar mãe! Vem pelo amor de... Preciso da Senhora”.
              Esse grito histérico, porém silencioso que me rasga a alma neste instante e junto com este pensamento, as lágrimas que tentei sufocar a pouco romperam, escaparam com a fumaça do cigarro que subiu no ambiente em semicírculos entre outras formas indefinidas. Neste momento ainda, recordo da vela que, num gesto simples, acendia quase todos os dias para mim. Quantas vezes eu a escutara no cômodo escuro a orar por mim baixinho, para que ninguém acordasse naquelas horas em que todos os outros dormiam. E ela ali de joelhos a pedir. Mamãe como dói, como essa lembrança dilacera, aqui dentro de meu peito agora. Quanto me amou! Resta-me pedir perdão. Se até mesmo neste momento faço-a sofrer.
              Tentei disfarçar, olhando para a árvore que já não pingava mais tão intensamente. Percebi-me na imagem fria do espelho da parede, que estava atraindo olhares curiosos. No entanto, ninguém sabia o que estava acontecendo comigo. Sentia-me como resto intragável, azedo que mais um dia vomitara. Na realidade, estava percebendo, raciocinando, questionando o meu viver e o dos outros. O que é o viver? Preciso de uma resposta, mas, não agora.
              Somente consigo pensar, que por companhia, entre uma saída e outra, tenho a solidão e meus pensamentos que levo. Até aonde ir? Se esta vida fere. É... No cansaço do meu andar, muitas vezes, o olhar que lancei na vida se perdeu em procurar nos vãos dos caminhos desta estrada uma esperança.
              Fica cada vez mais, estampado pelo suor, neste rosto, o de-
sespero dos pedidos feitos nas preces do dia a dia. E agora que o cansaço começa a chegar, são sinais de que a vitalidade, os risos ingênuos de outros tempos estão por findar?
               Mas, por fim, as lágrimas que antes tentei disfarçar são as mesmas que novamente começaram a correr em minha face e foram se encontrar na xícara sobre a mesa e desenharam círculos no café.
              Olhei para fora mais uma vez... Entretanto, enquanto se está vivo, é preciso aprender a recomeçar e continuar vencendo os males dos dias. Amanhã, quando sair de novo, levarei comigo o amor, porque a cada dia quero reaprender um novo significado para a vida. Mesmo que, seguindo por entre o peso dos dias e dos pensamentos, mesmo assim, quero saber sorrir para os sonhos.
              Era assim que M.J. sempre falara numa destas cadeiras que hoje se encontram vazias aqui nesta mesa. Ela passava horas a me dizer – Menino-homem um dia todos nós crescemos e neste crescer muitas coisas vão ficando pelos caminhos. O tempo se encarrega de levar tudo e trazer também. É necessário aprender com tudo isto. E entender a arte de como a vida é simples. É como ela sempre dizia:
              - A gente nunca deve deixar de sonhar.
              Sim, hoje entendo a simplicidade da vida por um lado e por outro, vejo o tanto que a complico em muitos momentos desse meu viver. Contudo, o tempo não me propiciou hoje, nestas cadeiras, estar mamãe, M.J. e a felicidade. Mas, ainda posso ter a esperança de encontrar a felicidade...É.
              Todavia, lá fora a garoa tímida caia, como o movimento pelas calçadas, que continuava sem muita ordem. Rostos sem risos. Estava ficando tarde e era preciso que eu partisse, que me juntasse aos tantos outros lá fora e me fosse.

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Rogério Dezzotti.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Afinal, quem fala corretamente?

Provocou grande polêmica a revelação de que uma obra incluída pelo Ministério da Educação em seu programa de livros didáticos para jovens e adultos autoriza seus leitores a utilizar construções como "nós pega o peixe".

A autora do livro em questão, Heloisa Ramos, e seus defensores, inclusive o próprio MEC, argumentam que a obra apenas apresenta a possibilidade de variantes populares da língua também serem eficientes na comunicação. De fato, a frase "nós pega o peixe" é plenamente compreensível.

Mesmo assim, o barulho que se fez tem sua razão. Afinal, espera-se de um livro didático que instrua o estudante sobre os melhores usos da língua. Que se reconheçam a existência e a eficiência de registros populares é uma coisa. Outra, diferente, é eliminar, para quem ainda está aprendendo, a noção de certo e errado. Não importa que muitos acadêmicos não reconheçam esses conceitos como válidos em se tratando de registros linguísticos. Para estudantes, certo e errado servem de referência.

Gostaria, porém, de ver se levantar o mesmo alarido crítico pelo fato de a chamada "norma culta" - a variante linguística que emprega as regras gramaticais vigentes - ser maltratada diariamente até mesmo por muitos daqueles que criticaram o MEC e o tal livro.

Um exemplo muito comum de maltrato é o uso de "onde" como pronome relativo mesmo quando na oração não há indicação de um lugar físico. Você já deve ter ouvido ou lido algo assim: "Vivemos numa época muito difícil, onde a violência gratuita impera". Nesse caso, o correto seria usar "em que" ou "na qual", já que se fala de um tempo, não de um lugar.

Ora, mas vivemos mesmo numa época muito difícil, na qual o ensino do português tem sido cada vez mais burocrático, o incentivo à leitura de livros é mínimo e a rapidez da internet dá a impressão de que a gramática e a ortografia são conhecimentos dispensáveis Não se trata de defender apenas o uso de um português castiço, como se todos devêssemos escrever como Machado de Assis. A língua é e deve mesmo ser algo vivo, em constante transformação. Mas a evolução não pode se dar pela corrupção.

Fonte: http://www.destakjornal.com.br

sábado, 21 de maio de 2011

Que língua a escola deve ensinar?

Que língua a escola deve ensinar?

Os linguistas sabem que o Português é muito mais amplo do que a língua escrita culta que é ensinada na escola — mas a escola sabe, mais que os linguistas, que essa é a língua que ela deve ensinar.

Um grupo de estudantes de Letras veio me visitar: faziam um trabalho para a faculdade e queriam a minha opinião sobre o papel do professor de Português “neste novo milênio, frente às novas teorias lingüísticas e aos novos meios eletrônicos de comunicação”. Não pude deixar de sorrir diante de tanta novidade numa frase só; olhei-os com simpatia — todos vão ser meus colegas, em breve — e respondi que o nosso papel continua a ser o mesmo de sempre: transmitir ao aluno a língua da nossa cultura e ensiná-lo a se expressar em prosa articulada.
Talvez tenham ficado espantados com a resposta, mas eu não estranhei a pergunta deles. Sei que o avanço da Lingüística, com tudo o que nos trouxe de bom, provocou também essa curiosa insegurança da escola quanto aos objetivos do ensino do nosso idioma. No entanto, faço questão de repetir que esses objetivos não mudaram e não devem mudar, por mais que os argumentos em sentido contrário pareçam engenhosos. Um lingüista, por exemplo, convidava seus leitores a imaginar um documentário de TV em que o narrador informasse que a canção de acasalamento da baleia azul continha vários erros grosseiros, ou que os gritos dos chimpanzés da Malásia vinham degenerando progressivamente. Seria absurdo? Ora, se não podemos falar em erros da baleia azul, perguntava ele, triunfante, como podemos falar em erros na fala humana? Como pode a escola tentar impingir uma variedade do idioma, tachando as demais de inadequadas? — e por aí ia a valsa.
A este tipo de raciocínio engraçadinho, que obteve grande sucesso nos anos 70, contraponho uma verdade que todos nós conhecemos: os lingüistas sabem que nosso idioma é muito mais amplo do que a língua escrita culta que é ensinada na escola — mas a escola sabe, mais que os lingüistas, que essa é a língua que ela deve ensinar.
O que a escola faz, e tem a obrigação de fazer — porque só ela pode fazê-lo de maneira progressiva e sistemática — é ensinar o futuro cidadão a  se utilizar dessa forma  tão especial de língua que é a língua escrita culta, cujas potencialidades espantosas aparecem na obra de nossos grandes autores. Machado de Assis, Vieira, Eça de Queirós, Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre, cada um à sua maneira, são ótimos exemplos. É nesta língua que se cria e organiza a maior parte de nosso pensamentos e sentimentos, seja escrevendo, seja falando (pode parecer paradoxal a inclusão da fala, mas não é; há muito se distingue a língua que o indivíduo fala antes do seu letramento e a língua que ele fala depois). Todas as demais variedades são respeitáveis como fenômeno cultural e antropológico, mas não é nelas que a escola deve concentrar seus esforços.
Nosso aluno espera que ensinemos a ele a usar essa língua que constitui a modalidade do Português que todas as pessoas articuladas aceitam como a mais efetiva para expressar seu pensamento. Dizendo de um jeito mais rude: se houvesse forma melhor, ela estaria sendo usada. Todas as sociedades reconhecem isso; o velho Bloomfield, um dos lingüistas “duros” do estruturalismo americano, ressaltou que a comunidade, em várias tribos de nativos por ele estudadas, sabia apontar muito bem aqueles que falavam melhor do que os outros. Na sua sabedoria, o público maciçamente tem repelido as tentativas desastradas de fazer a escola aceitar como válida toda e qualquer forma de expressão. Quem não lembra a triste moda dos anos pós-Woodstock, em que defendíamos com entusiasmo a valorização da linguagem do vileiro como algo digno de ser preservado? Hoje sabemos que nada mais era do que uma alegre fantasia da classe média acadêmica, que terminava cristalizando uma categoria de excluídos, contra a vontade de seus pobres falantes. “Não é para isso que a gente estuda”, dizem eles — e  chamá-los de conservadores é o mesmo que dizer, com arrogância, que nós é que sabemos o que é bom para a sua vida. Já vimos isso na política, em que alguns têm a petulância de dizer que o povo não soube escolher …
Agora, por que a prosa? Porque escrever prosa nos torna homens mais exatos, como percebeu Francis Bacon. Escrever é disciplinar o pensamento; o domínio da prosa impõe rigorosa disciplina à nossa mente. Ao escrever, vamos deixando uma trilha do nosso pensamento, permitindo que voltemos sobre nossos próprios passos para encontrar o ponto em que nos desviamos da rota certa e onde nos enganamos. Além disso, precisamos seguir uma série de convenções que permitam que as outras mentes acompanhem o caminho descrito pelo nosso raciocínio. Não vou exagerar, mas acredito que o pensamento articulado é impossível para uma pessoa que não consiga construir um texto coerente e também articulado — e não tenho certeza do que aqui é causa, o que é efeito. Uma escola que não ensine o aluno a escrever com clareza e coerência está comprometendo algo muito mais profundo que aquilo que os antigos chamavam de uma “boa redação”.
Muitos alegam que essas regras são mantidas apenas porque é assim se afirma o poder da elite, dividindo a população entre os que conseguem e os que não conseguem entendê-las. Em parte, é verdade: quem as domina consegue expressar-se  melhor e argumentar melhor, o que resulta inevitavelmente em maior poder sobre os outros. Mas não são regras estabelecidas por capricho ou por acaso; nasceram da experiência acumulada em milhares de tentativas de expressar-se articuladamente no Português, ao longo dos últimos oito ou nove séculos, num esforço gigantesco que produziu esse magnífico instrumento de expressão e de argumentação. Se essa língua é usada para dominar e submeter, pode, com muito mais razão, ser usada para libertar. Em nome da igualdade social, essa é a missão da escola; agora, como fazer isso, em escala universal e democrática, é uma questão que deve ser resolvida estrutural e politicamente pelos governos e pela sociedade, não pelos professores de Português.
[Artigo publicado na revista Arquipélago, do IEL-RS, em 2005].
LEIA MAIS:

Depois do Acordo:
lingüista, Lingüística > linguista, Linguística

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O desabafo da professora Amanda Gurgel


Vejam o nosso futuro!!!!!!!
È lamentável

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