IESA - Santo André
2º ALEN - Turma 2011

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Catman por Jorge Barbosa

Desencontro


            Quinta-feira, 23 de fevereiro, onze horas. A Mulher-Gato lê seus e-mails e, feliz, comemora a visita de seu único e verdadeiro amor. Após vários desencontros e meses, finalmente parece que a vida resolveu dar uma folga em seus trabalhos e a distância será rompida com o anoitecer. Ela nunca deixa de falar com ele e fomenta algo especial, pois só terão a semana do carnaval.
            Perdida em seus pensamentos e planos, que não são poucos, a gatinha é interrompida pelo toque insistente de seu celular. Despreocupada, ela atende:
     Alô, quem é?
     Adivinha?
     Arlequina?
     Eu mesma, tá afim de um conselho? Pare de viver de sonhos, não existe um ideal...
     Do que você está falando?
     A vida é cheia de desencontros e o Morcego, vai te deixar na mão!
     Peraí, quem te contou?
     Vi você ontem comprando acessórios num certo sexy shop...
     Você anda me espionando?
     Amigas são para essas coisas! E, depois do romance dele com o Robin, tudo é adjetivo!
     E o que você quer?
     O que você acha?
     Sei lá, uma aventura...
     Você não quer me dizer que está gostando de mulher agora!
     Claro que não!
     Então tá, tome cuidado com esses namoricos de internet, o meu último foi um desastre!
     Com o espanhol, made in Paraguay, não deu certo?
     Não, eu demorei um bocado para me reestruturar, precisei do Coringa.
     Eu sei, mas dessa vez, vai ser diferente, ele não perde por esperar!
     Melhor mesmo, ou Gothan City vai pagar!
     Que Gothan City! Nosso ninho de amor será aqui mesmo em São Paulo!
     Acho que estou falando com a Mulher-Gato errada...
     O quê?
            Arlequina desligou o celular tão rápido que a Mulher-Gato não entendeu mais nada. E assim foi o dia inteiro, para ela uma eterna dúvida, um eterno desespero sem fim. Parecia que a cada minuto, ela precisava de uma música, uma bebida e um cigarro. Roupas não haviam mais nenhuma no lugar, comida por todos os cantos e, um silêncio incessante que parou a rua e o tempo.
            Com o telefonema de Arlequina, a gata arrumou mais um problema, mas não adianta, a loucura já foi feita e Batman está a caminho.
            Já no local combinado, celular em prontidão, a Mulher-Gato parou em uma máquina de coca-cola para uns poucos minutos de desalento. Um simples abrir e fechar de olhos parecia um longo sono, com o despertar atrasado e seguido por uma corrida frenética, típica de quem pode perder o ônibus do horário, seu cansaço e desgate eram visíveis, suas dúvidas começavam a tomar formas e proporções, ela se deu por vencida quando ouviu nos autos falantes:
     Os últimos vôos entre Rio e São Paulo foram cancelados devido ao mau tempo...
            Será que Arlequina tinha algo haver com isso, pensou a gatinha, mas já é tarde para ligar para alguém. Num impulso, ela disca no celular o número de Batman.
     Boa noite, Mansão Wayne.
     Boa noite Alfred, sou eu, Selina Kyle.
     Quanto tempo senhorita!
     É mesmo Alfred, sinto falta de seu chá inglês.
     E eu de sua simpatia.
     Obrigada Alfred.
     Senhorita, o Sr. Bruce não chegou aí ainda?
     Não, sabe se ele teve algum contratempo?
     Não, ele desmarcou várias reuniões para ter esses dias de descanso no carnaval.
     Entendo, mesmo assim muito obrigada.
     Espero revê-la em breve.
     Eu também, bye!
     Good bye.
            Sem outra alternativa, a Mulher-Gato resolve partir para casa sem mais demora, então pega o primeiro taxi e assim planeja melhor os próximos passos para apurar os fatos. Ao chegar no prédio, recebe do zelador várias correspondências, nenhuma do Batman de novo, sobe as escadas rapidamente para dentro de seu apartamento jogar as coisas no chão. Mais calma ela entra no quarto, onde desmaia na cama e automaticamente realiza uma viagem astral em busca de respostas com seu eu interior, ou um plano superior, sua consciência por alguns momentos se lembra dos malditos dias de sua infância num orfanato feminino, de onde Selina sempre fugiu de uma abusiva diretora, surge uma luz e um anjo, a deusa Bast aparece para ela com um lindo sorriso, pede a Mulher-Gato que brinque com ela, role pelo chão, dance e seja livre! Se viver é uma dor, viva essa dor com liberdade e não libertinagem. Algo voa pelo ar, algo verde musgo escorre no tapete e um sinal que as coisas não vão bem para o morcego, ela tira os sapatos e ouve uma jaula agitada por movimentos bruscos. Kyle, por alguns instantes, vê um grande salão, cheio de máquinas, e lá dentro, preso por cordas, está o seu amor. Ela fecha e abre os olhos, está devolta ao seu quarto com um grande bloco de notas e uma caneta, no espelho escrito com batom vermelho um recado da deusa Bast: às vezes, é preciso morrer para começar a viver.
            O jogo mudou, mas os jogadores não, Selina não sabe o que vai fazer, já é de manhã, onze horas e o sol está muito forte. Talvez ela deva esperar o anoitecer para poder agir com cautela e acertos, mas alguém a aguarda na sala.
            A gatinha não pensa duas vezes e pega o chicote debaixo da cama, com passos rápidos e silenciosos, Kyle tenta agir, mas é surpreendida com um pulo rápido da estranha.
            Selina ri e bate seu chicote no piso, como se tivesse uma idéia rápida, mas os estalos não resolvem nada, a adversária coloca uma conhecida máscara, luvas com garras de diamante e pega nas costa um velho chicote marrom. Ambas se olham e simultaneamente usam os chicotes, que se prendem no ar, com se fizessem um laço, fugindo aos seus controles como serpentes. Sem alternativas, elas jogam fora os chicotes e partem para um mano a mano, enquanto o silêncio é substituído pelos estilhaços da cristaleira da sala de jantar e seus pertences internos quebrando.
            Selina pensa que deve acabar logo com isso ou acabará chamando a atenção dos vizinhos, e pior, acabará com seu doce lar. A inimiga faz um sinal, como se estivesse a muito esperando por isso. A gatinha dessa vez é mais precisa e com um salto curto desfere um poderoso chute que joga a adversária no sofá, que vira por duas vezes até acabar quebrando os vasos da parede e sua ocupante.
Não feliz, Selina corre para cima da adversária que com rápida rasteira derruba-a e diz:
– Senão sabe brincar, não brinque.
– Você não gostou do meu brinquedo?
– Gostei, mas você tomou o meu.
Ambas se erguem rápido, Selina dá um soco pela direita enquanto recebe um soco pela esquerda, a invasora dá um chute com o pé direito, e logo, é bloqueada pelo pé direito de Kyle, parece que as duas lutam com um espelho.
A intrusa dá mais um soco pela esquerda e recebe outro pela direita, um chute
pela direita e recebe um pela esquerda. Selina, logo saca algo e abaixada acerta em cheio o joelho esquerdo adversário. A inimiga no cair desfere um forte chute em Selina que sai do chão por um pequeno instante. A gatinha respira, ergue-se resolvida e começa uma seqüência de socos até recebe um forte chute no peito, ela sente dor e recua para a porta do quarto.
A luta pára até que a gatinha corre e dá um perigoso gancho de esquerda que por sorte atinge o ombro direito inimigo. A invasora tenta segurar o choro e vai devagar colocando o ombro no lugar, então abre os dedos, gira fortemente perto de Selina que tem sua barriga rasgada pelas garras, Kyle com um pouco de dor, lágrimas nos olhos de raiva, reage com socos pela direita e pela esquerda. É estranho, mas adversária gargalha muito e dá um longo gancho de esquerda que arremessa novamente a gatinha no ar por mais tempo.
Patience pega Selina pelo pescoço e arrasta-a até a sacada, falando:
– Se você continuar me fazendo cócegas e eu posso até ronronar.
– O  que foi?
– Você já se perguntou isso antes?
– Não, quem é você?
– Patience Philips, mas conhecida como a Mulher-Gato.
– Q ue coincidência, eu também sou uma Mulher-Gato.
– Eu sei Selina Kyle! E igual a nos, existem outras.
– Pois é, e por que você não procurou outra Mulher-Gato?
– Bast não me deu escolha.
Quando Philips tenta jogar Kyle pela janela á fora, a gatinha ataca com longos golpes de cotovelos. Ambas vão ao chão.
– O que foi?
– Você deve ser muito especial ou realmente precisa de ajuda.
– Eu sei me virar sózinha.
– Eu também, apesar de sempre escolher o homem errado.
Selina pega no braço de Philips, que pula em cima dela enquanto lhe dá uma cabeçada forte. Kyle vê seu sangue escorrer, sente um certo esgotamento, e um certo receio, será que chegou sua hora, ela fecha os olhos e busca forças dentro de seu peito, passa em sua mente um pequeno filme, uma menina encolhida num canto de um conhecido orfanato, sendo julgada por uma mulher impetuosa que fala alto:
– Você é uma pobre coitada largada pelo pai alcoólatra e uma mãe suicida! Você é
a escória da sociedade, uma futura prostituta se eu quiser!
Ela se vê naquela menina e lembra que nunca aceitou a imposição da sociedade e
de qualquer pessoa. Mesmo criança, lutava para melhorar suas condições no orfanato. E quando, desistiu de mudar o lugar onde vivia, fugiu para longe por vários dias, quando era trazida de volta, encontrava sozinha de novo o caminho da rua e assim resistia as perseguições de uma diretora desvairada. E agora, era hora de sua virada, achar uma solução ou morrer com honra.
Selina abre os olhos e gira com Patience pelo chão. Philips não consegue se levantar nem Kyle, parece que agora elas só podem brigar verbalmente ou conversar:
– Você parece estar sofrendo, Selina.
– E você se faz de durona, mas não me engana.
– Você também não, o que você quer?
– Acabe com minha vida e essa maldição.
– Não posso.
– Por que não?
– Quando Bast me deu esses poderes...
– Você decidiu ser livre em todos os sentidos e por isso...
– Não sujo as minhas garras com sangue inocente.
– Não sou inocente.
– Eu sei, sua mão é muita pesada. Você ajuda a manter a ordem nos dois mundos e...
– Entre o bem e o mal. Tá você me convenceu, vou embora.
– Pra onde?
– Sei lá.
– Será que você não quer esperar mais um pouco.
– Não, já fiz você perder muito tempo, seu amor está a esperando.
– E o meu destino também.
– Um dia vamos nos reencontrar e entender tudo isso?
– Será?
– Sim, até lá, se cuide!
– Isso foi um teste?
Patience corre e pula pela janela aberta e Selina devagar se ergue cheia de dúvidas, os olhos fogem das órbitas, enquanto se conforma com os estragos no apartamento, a outra Mulher-Gato podia ter ficado arrumando a casa, pensando bem deixa pra lá, não há mais tempo, Kyle se troca e se prepara para mais uma empreitada, seja como for ela continua só, armada e perigosa. Antes de sair, ela pega debaixo de sua porta principal, uma charada. Agora, ela entende o recado da noite passada.
No carnaval, o trânsito ficou uma loucura, mesmo de manhã, a gatinha resolve dar pulos pelos prédios, ninguém acredita no que vê e ela ri muito. Na estrada próxima do cativeiro de Batman, ela resolve seu plano de ataque contra o Charada e logo invade a fábrica vazia. Algo de estranho paira no ar, ela ouve, mas não há ninguém como é possível isso? Seu coração bate descontrolado, seu amor está por perto, e quando vê uma luz no fim do chão do corredor. Rapidamente, ela ergue o piso, onde fica claro o esconderijo do inimigo e sorrateira acerta o Charada, enquanto é presa por uma máquina estranha.
Sexta-feira, 24 de Fevereiro, treze horas e quinze minutos, a Mulher-Gato está presa por correntes numa máquina, um estranho joga água nela e fala:
– Finalmente, você acordou. Está confortável, gatinha?
– Você sabe muito bem que não.
– Não vai perguntar quem sou eu? Ou já me reconheceu?
– Não!
– Não me reconhece, que tal um enigma?
– Charada!
– É isso aí, gostou do meu novo corpo? Será seu em breve e se você se comportar poderá viver com ele.
– Você continua bebendo muito?
– Não, você é que está sendo maliciosa, pois você não faz o meu tipo.
– Ótimo, explica o grande plano da vez.
– Pensei que você nunca ia perguntar.
– E?
– É o seguinte: está máquina que esta a nossa volta realiza a troca de mentes, portanto o plano é simples. Eu assumirei o seu corpo, matarei o Batman e com seus poderes dominarei os dois mundos.
– Isso seu eu permitir.
– Você não entendeu ainda, você não tenho escolha, só charadas, hahaha!
– O que houve com seu velho corpo?
– Ele pulou do telhado, hahaha! Chega de blá, blá, blá, pois é hora do show!
– Você não vai se dar bem nessa.
– Você não é mais empecilho para mim, miau!
Charada senta rápido na cadeira do outro lado da máquina, puxa uma alavanca,
dois capacetes caiem e cobrem as cabeças deles. Por alguns instantes o silêncio e substituído pelos urros da Mulher-Gato. Ela desmaia e automaticamente entra em transe, num plano superior, surge esboços de uma luz e um anjo, ela identifica Patience Philips e Bast sorrindo para ela e dizendo: Seja forte pois seus poderes estão em sua essência, em sua alma, em seu âmago e não em seu corpo. Ela acorda, na cadeira sem o capacete, a viagem astral acabou, Charada não está lá, ela está solta, com muita pressa ela corre pelos corredores, soldados de ronda começam a surgem por todos os lados, ela se lembra do teto de piso falso então depressa sobe, ninguém ainda a viu.
No fundo do corredor, Selina vê um espelho e a imagem refletida é de seu usurpador, um homem belo mas não o Charada que conhecemos, ela pensa que poderá viver assim então muda seus planos enquanto ouve o cantarolar de uma donzela, olha por baixo do piso, Charada no seu corpo se vestiu de noiva e baila pelos corredores. Ela vai seguindo a música, sem ser interrompida, Kyle percebe quando Batman preso e solto pela falsa Mulher-Gato, então desce com tudo, pega um pedaço de fio e diz:
– Miau, é hora do show!
– Batman, ele é o Charada.
– Não, ela tá mentindo.
– Calma aí, o Charada é magricela, mau humorado e esse rapaz é ajeitadinho. De
longe e nem de perto lembra Edward Nigma!
– Você não vê que ele trama contra nossa felicidade? Eu sou a Mulher-Gato, ouça meu rugido...
– Por ele carregar um fio nas mãos.
– Até gosto da idéia.
– Pelo jeito, Mulher-Gato, você não o conhece!
Batman se afasta da falsa Mulher-Gato e carinhosamente apanha a mão do falso
Charada.
– Eu te conheço da onde mesmo?
– Da noite.
– Isso não ficar assim!
– Tem razão e melhor eu resolver isso de uma vez.
– O que você pretende, Mulher-Gato, quero dizer, Charada.
O falso Charada joga o fio sobre a falsa Mulher-Gato, puxa e lança ela longe quebrando os vidros.
– Por que você não deixou eu resolver isso?
– “ Qual é a graça de uma charada se todo mundo sabe a resposta?” Ela vai
sobreviver.
– Quem é o Batman aqui?
– Você!
– Como você se chama?
– Catman!
– Você tem algum compromisso hoje?
– Sim, preciso cuidar dos bandidos reunidos pela Mulher-Gato...
– E depois?
– Se você resolver me ajudar, agente conversa.
– Fechado!
Os bandidos reunidos pelo Charada entram com tudo, enquanto Batman pega num canto seu cinto de utilidades.
– Quem vai ser o primeiro a apanhar? – pergunta Catman, enquanto salta de um lado ao outro quebrando a caixa de força.
– Chefe? – pergunta um dos capangas.
Em silêncio Batman lança uma rede sobe alguns invasores que caem, mas logo é supreendido por dois grandões, que o prendem no teto. O morcego se dobra no meio e chuta os gigantes com as pontas do pés, um deles puxa uma curta arma e, Catman derruba uns fracotes com dois longos socos e grita desesperadamente:
– Batman cuidado!
Batman gira no ar, passa para trás de seus agressores e com um curto toque nocaute-os na parede. Catman sorri e Batman vai até ele. Mas logo entram em cena outros homens armados de barras de ferro.
– Esquecerão de nós – pergunta um novo capanga.
– Não - responde cordialmente Batman.
– Então porque não atacam logo?
– Batman, eles tem algo estranho.
– Eu reparei.
– De vez ficarem só olhando porque vocês não vem descobrir?
Batman e Catman se olham e partem para o ataque, então vêem feixes pr5ateados surgir das costas adverárias, eles param se jogam para os lados. Os novos agressores riem e avançam com suas espadas tortas.
– Charada de que lado está?
Catman dá de ombros, enquanto derruba alguns bandidos com uma longa espiral no ar e observa Batman lançado bombas coloridas no chão e derrubando outros tantos com vários giros de dedos.
– Acabou? - avança Catman afastando alguns copos caídos com os pés.
– Só espere um momento e vamos descobrir com o silêncio.
– Está bem Batman.
Catman respira fundo, até supreendido por um longo beijo de Bruce que retira do bolso pequeno celular e diz:
– Vamos deixar o resto com a polícia?
– E assim curtir a noite?
– Como amantes que somos das boas coisas da vida...
            – E da noite – conclui Catman aos risos.

Quarta de Cinzas


            Quarta-feira, dia primeiro de março, Catman se depara com um dilema, olha o Batman dormindo, expressão tranqüila e cabelos encaracolados, estão deitados nus envoltos por lençóis, a madrugada foi boa e curta, há uma tristeza em seu olhar por tudo que houve. Será possível que o morcego esqueceu a Mulher-Gato, ele se sente traído, pois no fundo o corpo jogado pela janela havia sido o dele, Batman podia não saber o que houve, mas nem por um segundo fez algo pelo corpo da Mulher-Gato.
– Batman, você está acordado?
– Não, pode abusar de mim.
Eu queria lhe falar algo.
 – Pode ser daqui a pouco?
 – Claro, eu te espero na sala.
 – Não, fica aqui do meu lado, bem quietinho.
 Batman volta a dormir abraçado com Catman.
 O gatinho não consegue parar de pensar, então resolve relaxar e buscar ajuda no plano superior, então realiza uma viagem astral, onde Bast o espera ansiosamente dizendo:
 – Você demorou, e aí como tá lá com o Morcegão?
 – Foi bom até o momento, mas...
 – Mas?
 – Mas uma dúvida me consome, ele estaria comigo se eu não fosse homem?
 – Você sabe a resposta.
   Pior que sim e não sei o que vou fazer.
   Que tal dar tempo ao tempo.
   E esconder a verdade?
 – Às vezes, para se viver um grande amor são necessários sacrifícios, a verdade nos liberta e nos feri muitas vezes.
 – Eu amo esse mais que tudo nessa vida, mas não consigo suportar a sua traição ao meu corpo.
 – Pense que ele salvou a sua essência.
 – Ele nem sabe quem eu sou, de onde vim...
 – É isso que te incomoda?
 – Não, mas o fato dele trocar a falsa Mulher-Gato por um belo desconhecido, sim!
 – Você sempre quis esse homem e por um pequeno defeito quer jogar a sua felicidade fora?
 – Eu não acho isso um pequeno defeito, se ele já me trocou antes por um rapaz, ele pode fazer novamente mesmo eu sendo um belo homem agora.
 – Você não quer correr riscos?
 – Não é nada disso.
 – Claro que é você não confia no seu taco. Está em insegura e portanto insatisfeita.
 – Você não entende mesmo.
 – Nem você a mim.
     Bast sai e Catman volta ao lado de Batman que na cama está eufórico.
     – Catman, você está bem?
     – Não.
     – Eu fiz alguma coisa errada?
     – Não.
     – Então o que está havendo? Posso te ajudar? Por que se o problema for dinheiro eu posso te ajudar?
     – O quê?  Você está me achando com cara de michê?
     – Não, não é isso, eu quero te ajudar, quero te fazer feliz.
       Por quê?
     – Por que você lembra muito a Mulher-Gato por quem eu me apaixonei no passado, uma pessoa independente, voráz e surpreendente, diferente do que eu encontrei nos últimos dias, uma pessoa possessiva e cheia de si.
     – Quando vocês encontraram da última vez?
     – Foi por celular, ela insistia que nos víssemos para colocar as coisas em pratos limpos. Alfred me convenceu que seria melhor concordar com ela e assim evitar outro escândalo envolvendo o Robin, nossa união nunca foi perfeita, ela era muito ciumenta, afastou de mim várias amigas e amigos, e nunca foi capaz de pedir desculpas.
     Catman com os olhos cheios de lágrimas, deixa um suspiro alto sair e as emoções rolar.
     – Bruce, eu nunca aceitei te perder pra outro homem.
     – Selina é você, no corpo de um homem, então a Mulher-Gato não mentiu?
     – Não, na verdade aquele que usurpou o meu corpo era o Charada.
       E de quem é esse corpo?
     – Não faço a menor idéia.
     – Acho que isso significa o fim para nos dois...
     – Por que você nunca disse a verdade para mim?
     – Eu achava que era fase de transição, onde você ia aprender a lidar com seus sentimentos e eu com os meus desejos. Mas o tempo só piorou as coisas.
     – Mesmo eu sendo homem agora, você não me quer?
     – Eu te quero mais que tudo, mas não consigo parar de olhar o mundo a minha volta.
     – Você não quer tentar?
     – E você quer?
     – Sim, eu quero correr o risco, então vamos juntos para Gothan City?
     – Dessa vez não, quero descobrir a verdade sobre mais esta vítima do Charada.
       Você fala do verdadeiro dono desse corpo?
     – Sim! Eu de alguma maneira devo corrigir...
       Deixa eu te ajudar...
       Não, você tem uma cidade a defender...
       E os inocentes.
                        - Você só está tornando as coisas mais difíceis pra mim.
     – Eu queria que fosse diferente dessa vez.
– Quem sabe um dia, quando não houver mais vítimas e agressores...
– Não queria dizer adeus.
– Então faça como eu, diga apenas “até logo” - Catman sai correndo e pula pela janela aberta.


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