IESA - Santo André
2º ALEN - Turma 2011

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Ceto por Jorge Barbosa


Há muito tempo, antes mesmo dos olímpicos, haviam outros deuses e outros amores.
Ceto amou seu irmão Fórcis, dominou os mares e previu seu destino. Nunca comentou com ninguém, mas sabia que teria sete filhas, sete mulheres serpentes, muitas alegrias e muitas tristezas. E viveria sempre entre as enseadas e as marés.
 Fórcis tinha na amada esposa e irmã um respeito tão grande que entendia todos os seus pedidos como ordens. E Gaia sempre por perto aconselhava resignadamente os filhos.
No primeiro parto, Ceto pediu ao marido que a deixasse só com a mãe. Gaia segurava sua mão e Fórcis zeloso ficou longe em alto mar. Ceto não sentiu dor nenhuma, mas chorou muito. Estava emocionada e as três primeiras filhas nasceram inteiramente velhas: curvas, manchadas, cegas e desdentadas. Por piedade, a avó divina consultou Parcas e deu-lhes um dos olhos e um dos dentes, chamou-as de Gréias. Já Ceto guardou-as nas cavernas que cercavam o Jardim das Hespérides e resumiu-as como: Rancorosa (Penfedro); Terrível (Déion) e Guerreira (Énio). Faltavam ainda quatro filhas.
Três décadas depois, Ceto engravidou de novo e pediu conselho ao pai. Ponto disse que: “Nada mudaria se ele ou outros deuses estivesse do seu lado”. Ela resolveu dar a luz sozinha. Pediu aos pais e Fórcis que ficassem longe de seus olhos, mas perto suficiente para seus berros. E como ela previra, ela berrou , berrou e como berrou. As filhas nasceram assustadoras: presas de javali, cabelos constituídos de serpentes vivas, mãos de bronze e asas de ouro. De tão penetrantes, seu simples olhares transformavam suas vítimas em pedra. As três eram chamadas: Esteno, Euríale e Medusa. Ou simplesmente Górgonas. Demorou um pouco, mas Ceto encontrou lugar atrás das cavernas das Gréias antes do Jardim das Hespérides também pra elas.
Ceto não aceitava ter feras como filhas e desejava muito ter uma menina. Fórcis leu seu pensamento e em troca do dom da imortalidade de Medusa deu a filha o dom da metamorfose, assim Medusa acalmou a mãe transformando-se às vezes em centaura e às vezes linda ninfa marinha. Faltava uma filha.
A ansiedade antecipou a última gravidez de Ceto em meses. Três meses depois do último parto. Ceto não sabia direto o que fazer.
Três meses antes do fim da gestação, Ceto terminou seu barco e fugiu pra alto mar, proibindo todos de segui-la. Ela não suportava mais a idéia de ter monstras saindo do ventre. Não queria ver mais a tristeza nos olhos dos pais, marido e amigos. Não culpava ninguém pela repulsa, nojo e piedade. Previra seu destino e não queria mais viver. A criatura sairia dela e ela se jogaria bem fundo no mar.
Passaram se trinta dias depois da partida da terra, a bolsa estourou no sétimo mês de gestação, a mulher serpente nasceu e Ceto despencou rápido no mar. Quase se afogaram as duas. A mulher serpente era ágil e salvou a mãe, arrastando ambas pra cima e pra vida. A última filha de Ceto e Fórcis ficou conhecida por Eqüidna, a mãe de todos os últimos monstros da Grécia antiga
E na mesma noite, Ceto dormiu ao lado do marido e sonhou que encontrava um novo deus em alto mar que não era seu marido. Não havia chegado sua hora e não contou para Fórcis, mas sabia que um dia surgiria um novo senhor dos mares. Sabia que uma de suas filhas pagaria caro por isso. Sabia que seus netos também pagariam caro por isso. E ela continuaria entre as enseadas e as máres.

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More