IESA - Santo André
2º ALEN - Turma 2011

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Eros e Psiquê (Amor e Alma) por Jorge Barbosa

Eros


Enquanto não colocou fogo em tudo, Madame Afrodite não descansou, mas faltava algo, um golpe fatal. Pensou, pensou e repensou. Apelou as cartas e logo surgiu o arcano dos Enamorados. Afrodite não se conteve e riu prolongadamente era má e egoísta. Chamou seu único filho: Eros.
A jovem atriz Psiquê olhou para todos os cantos que já fora seu teatro e os seus olhos molhados escorriam amargamente. Ninguém entendia e ninguém saiba como explicar: o castelo dos atores roerá. E com ele, a família inteira de Psiquê, fugiu para longe, além do mar, para outros países e outros mundos disseram.
Sorrateiramente Eros trouxe um buquê de rosas e um cartão dizendo: “Não está mais só”; Começava assim seu fado. Ele não viu direto Psiquê, mas seu coração viu o suficiente. O ar faltou, os olhares se cruzaram por uns segundos, uns instantes e que tempo mais longo.
Apaixonado, Eros nada disse à sua mãe, limitou-se a convencê-la que ela está livre da rival. Depois mandou um carro de aluguel para trazer sua amada.
Psiquê ainda cheirava as flores e incansavelmente lia o bilhete. Um motorista deteve-a e levou-a para a parte boemia da cidade. Alguns minutos passaram por uma esquina, uma curva, e outra esquina. No alto da ladeira a atriz foi surpreendida pela meia luz e uma faixa dizendo em vermelho: “Desprezada pelos mortais renasce a estrela Psiquê”.
Será uma ilusão? Uma miragem em plena cidade? Um sonho? Um conto da carrocinha? Uma alucinação? Seu pai resolveu fazer uma surpresa? Aonde ele está? Porque logo ali? Será? Será? Será loucura?
A casa nova era simplesmente barbara! Forada de flores e vidros coloridos. Um amor que vinha com a noite e sumia com os primeiros raios solares.
Mais uma vez ninguém sabia e ninguém entendia. Surgiam duvidas humanas, duvidas cabíveis e duvidas femininas. Surgiam as primeiras dúvidas de Psiquê. Ela amava no escuro um monstro ou um homem?


Psiquê


                A solidão do dia levou Psiquê a uma conhecidíssima cartomante: Madame Afrodite.
                Eros não sabia onde colocar a cara, nem como correr da mãe e da amada.  Afrodite entendeu tudo, usou a seu favor, além de cartomante Afrodite era uma poderosa feiticeira, temida por muitos e usou tim-tim por tim-tim, humilhou a atriz, disse verdades, inverdades, poucas e boas. Finalmente começava seu golpe de mestre, não se importava com o filho nem com mais ninguém.
Psiquê deteve se com a confirmação que seu amado chamasse Eros e era um verdadeiro deus grego, do qual se teme e se deseja ao mesmo tempo. A jovem perdeu as palavras, o rebolado, enfim tudo que trouxera ali e por isso enfrentaria tudo também.
Eros fugiu como os outros, se trancou no quarto e se sentiu impotente, traído e magoado. Deixou sua mãe tomar conta de tudo, pois o amor não vive sem confiança.
A atriz era obstinada, desejava por fim a todo mal entendido, buscava a todo modo seu amor perdido, correu por dezenas de igrejas, terreiros e roças. Qualquer lugar que pudesse ajudar a persuadir Eros de seu amor. Ninguém ousava ajudar, ninguém aconselhava e ninguém sabia o que fazer. Psiquê voltou a Madame Afrodite, mais mulher, mais apaixonada que antes e sentiu jorrar de seu peito uma luz de forte equilíbrio, olhos vidrados, nariz sem empinar, não chorou nem se moveu, não piscou e só esperou o veredito da Mãe de Eros: trabalho, muito trabalho.
Começou por separar diversas sementes misturadas a esmo pela sogra numa choupana. Terminou tudo em um dia graças às formigas que passavam por lá e ouviram o seu lamento, lamento triste de cortar os corações, as pequeninas entendiam e resolveram tudo. O que irritou muito Madame Afrodite.
Na manhã seguinte, a sogra armou outra das suas, novo e mais perigoso trabalho para Psiquê. A jovem atriz deveria trazer um tufo de ouro. Depois de muito andar e se perder chegou a uma fazenda. Ouviu do vento que: “Bastava esperar do lado do espinheiro roxo onde um carneiro dourado terminava de pastar e logo perderia alguns tufos”. Dito e feito como o vento.
Ao ver a lã dourada, a feiticeira não saciou sua sede de vingança, certamente a atriz havia recebido ajuda, porém o que não ia faltar era trabalho.

Os trabalhos de Psiquê não param


Madame Afrodite pensou, pensou e repensou. Lembrou do Rio Negro, num estado chamado Amazonas. Ela resolveu e pediu um pouco dessa água escura para Psiquê. A jovem atriz partiu e se sentiu perdida.
No meio do caminho apareceu uma ruidosa águia. A moça apertou o passo e ave antecipou-lhe dizendo algo indecifrável. Psiquê parou sem entender e pediu explicação a ave. Ela jogou-lhe uma garrafa com o seguinte rotulo: “água escura, produzida e engarrafada em Manaus”.
Até ai isso não dizia nada pra Psiquê, até que caiu na sua frente um raio partindo um grande carvalho ao meio, dessas partes a luz se fez sentir, a atriz teve um flashback da infância humilde, uma escola de lata e uma professora apresentando os estados brasileiros e suas capitais, ela não entendia direto e os outros alunos também. No mapa em frente e no alto estava escrito Amazonas, numa área grande e verde, cortado por vários veios que eram rios humildes. A conclusão de Psiquê veio rápida como o raio que dissipou a arvore: a Capital era Manaus e um dos seus afluentes era o Rio Negro.
A sogra se enfureceu de novo, soltava fogos pelas ventas e faíscas pelo corpo, tudo que pedirá foi feito com êxito pela nora e então só restava as Trevas, um caminho sem retorno, deixou um livro de magia negra largado na mesa e determinou a Psiquê que fosse lá pedir um pouco da beleza da Rainha Perséfone. Como esperava a moça se desesperou, pensou em contar os pulsos e tudo mais. Bateu na porta de Eros que não respondeu e finalmente leu no livro: “Para se ir à terra dos pés juntos era necessário roubar um fígado de um morto recém enterrado e aguardar sua visita depois da terceira badalada da meia noite”.
Meio desajeita, ela foi ao cemitério, levou flores e falou com o coveiro Caronte. Ele mexeu os óculos, franziu a testa e desconversou. Psiquê tentou disfarçar o tédio tirando da bolsa uma dúzia de velas que vagarosamente foi acendendo no cruzeiro central. Rezou e pedi conselhos aos céus. Ninguém atendeu e ninguém respondeu.
A atriz esperou por duas horas até o velho voltar com seu pedido estranho numa caixa enferrujada. Ela não conferiu nada, saiu correndo para casa de Afrodite, mas a dona não estava. A noite chegou lenta e vermelha, depois ficou roxa e por fim negra, obscura e silenciosa demais. O relógio fugia insistentemente da meia-noite e vice-versa, Madame Afrodite não chegava e Psiquê não sabia mais o que fazer não tinha mais cruzadinhas, caça-palavras ou revistas.

O amor não vive sozinho

E como previsto na terceira badalada da meia-noite austera surgiu um ser translucido reclamando seu órgão roubado. Como a moça não entregou nada, a alma se enfureceu e abriu um portal que engoliu tudo pra baixo. Ainda atordoada Psiquê entregou o fígado ao seu dono e um cão grande com três cabeças a perseguiu por todo o lado. Cada vez corria de um lado a outro, Psiquê parecia perder-se mais de seu lugar de origem, a casa da sogra, e conseqüentemente, sua tênue luz.
Até que uma hora não havia mais nada, só as trevas que mais pareciam o infinito espaço. O cão também desaparecerá lá atrás junto com som. Seus pensamentos pareciam ganhar força, primeiro com frases corriqueiras, depois com bobagens e por fim uma profundeza de sentimentos que dava desespero de fugir, mas pra onde?
Foi pensando assim que alguém suavemente se aproximou de Psiquê, conversando e apaziguando sua alma mortal. Deu-lhe a mão e disse: “Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem. Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela. Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável”.
Psiquê piscou os olhos para ter certeza que não era alucinação, para ter certeza que estava com a Rainha das Trevas, Perséfone, e se surpreendeu não passou cinco segundos e tudo clareou a sua volta, estava de novo em casa com uma caixa de prata e um bilhete na mão.
Leu, releu e releu de novo atentamente as palavras do papel cheiroso: “Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável. Volte sempre – Rainha Perséfone”. Psique sorriu aliviada até passar diante de um espelho e não se reconheceu.
A jovem atriz estava mais velha, mais cansada, mais magra do que de costume, cabelos desgrenhados, olheiras profundas, mal vestida e maltrapilha. Pensou, repensou e decidiu usar um pouquinho da beleza de Perséfone, pois só um pouquinho não faria falta na caixinha de prata para Madame Afrodite. Usou e tamanho sono derrubou-a, que nem deu dois passos e caiu, imóvel e abençoada pela beleza da morte.
Eros sentiu um tremor correr seu corpo. O amor não vive sozinho. Saiu do quarto, perguntou pela amada, pela mãe e até que encontrou o impotente pai, Hefaisto, trazia nos braços Psiquê desacordada. Eros apanhou a jovem e desmoronou com ela sofá, tanta culpa, tanto remorso, tantas palavras, e nada dela acordar.
Afrodite segurou o riso, como desejava aquilo, e foi arrastada pelo marido para biblioteca. Conversaram baixo. Hefaisto ameaçava contar tudo, Afrodite pedia calma, tentava seduzir o esposo e convencê-lo do contrario. Ele estava irredutível. Ela reconhecia que havia perdido o jeito e que havia exagerado. Hefaisto exigia uma solução, ou seja, um final feliz para os amantes como eles tiveram um dia, antes de suas brigas, suas traições e suas competições. Madame Afrodite apagou uma vela e o tempo voltou pra trás, no instante em que Psiquê ia abrir a caixinha de prata e a feiticeira gritou: “Já para quarto, já para o amor e já para tudo que ele pode lhe dar”! A moça acabou derrubando tudo, mas feliz.
Depois de alguns 3 anos, Eros e Psique tinham a certeza que nada mais deveria separá-los, era uma filha chamada Volúpia .


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